Ray-ban Meta: agora vai? 👓
Um olhar de produto num review de 10 anos testando smartglasses
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Se você já foi em algum evento/curso da Product Arena, já me viu/testou algum desses devices. Nos últimos anos inclusive a gente deixa um óculos para os participantes irem registrando seus POVs durante os cursos.
E olhando a foto ali de cima, dá para ver que a tecnologia evoluiu na mesma proporção que meu cabelo diminuiu, né? 😅
Brincadeiras à parte, é interessante pensar que há cerca de 10 anos a gente escuta que esse tal de óculos inteligentes vão ser a “the next big thing”, mas, nunca vinga.
Veja alguns devices dessa categoria que foram lançados desde 2013:
Um outro device que pode (ou não) fazer parte dessa lista seria o Apple Vision Pro (2023). Mas, pela portabilidade, duração da bateria e formato, vamos deixar de fora. Aqui estamos considerando apenas devices que você pode colocar e sair usando pela rua sem parecer que está em um filme de ficção científica.
Esse review será dividido nos seguintes tópicos:
Produto, design e usabilidade
Hábitos e Comportamento
Casos de Uso
Privacidade e regulamentação
O que vem por aí?
1. Produto, design e usabilidade
“Vamos fazer um óculos bem tecnológico”
Vs.
“Que tecnologia dá pra colocar em um óculos?”
Na minha opinião, inverter a pergunta, foi a maior mudança que impactou produto, design e usabilidade nos últimos anos. Indo além, se continuarmos a pergunta com "das tecnologias que podem ser colocadas em um óculos, quais delas fazem sentido para o contexto cultural atual?" aí o jogo muda mais ainda. E isso fica visível nas versões criadas ao longo do tempo.
Um óculos super futurista, que traz milhares de informações na tela e ainda passa um cafézinho pode até ser legal, mas timing é bem importante também né? Principalmente quando falamos na união do online e offline. Será que esse foi um dos por quês o Google Glass flopou? Who knows 🤷🏽♂️
Vou dividir esse tópico em 2 partes, o hardware e o software. Trabalhando bons anos com o2o (online to offline) em micro-mobilidade, seguros e outros, essa integração do mundo físico com o online nunca é trivial.
ps: recordar é viver, minha tese da pós graduação em 2015 foi sobre o2o 🤓
Hardware:
Olhando para o Google Glass, você sabe que não é um óculos comum (pode até parecer um cosplay do óculos dos Super Sayajins). O device prometia uma verdadeira experiência de realidade aumentada, com telas que se projetam nas lentes oferecendo recursos como navegação, pesquisa na web, envio de mensagens, música, tradução e fotos. Com vários problemas de desempenho e um cenário onde a internet mobile estava longe do 4G e 5G (tamo falando de 2013 né rapaziada), o buzz foi grande mas a frustração dos early adopters veio na mesma proporção. Acredito que o básico bem feito nesse caso deixou a desejar. Não se esqueçam que lá na década de 80 já existiam protótipos de Smartphones e Smartwatches.
E em tempos que cada mês sai um documentário diferente de uma startup, fica aqui a recomendação da história da General Magic, responsável por muitas patentes e protótipos do que a gente usa hoje (mas quando tudo era mato, nos anos 80).
Vamos ao Spectacles: parece ser intencional que as versões sejam em formatos diferentões e que chamem a atenção. A mais recente, que já conta com realidade aumentada, tem um look bem fashionista e moderninho (e nem tá disponível pra venda, apenas para desenvolvedores). Tudo isso para que você crie Snaps mais legais, interativos e através do famoso POV (Point of View). Apesar de ser mais discreto que o Google Glass, é possível ver uma câmera nitidamente nos óculos.
Já o Amazon Echo Frame (você sabia que a amazon tem um óculos inteligente desde 2020? 🤔) e as versões do Ray-ban Meta dificilmente serão notados como um óculos inteligente. Inclusive, um dos modelos mais icônicos da Ray-Ban, o Wayfarer, foi um dos selecionados para ter a tecnologia incluída.
DataArthur Informa: usando desde 2021 as versões do Ray-ban inteligente, até hoje apenas duas pessoas ao me ver com eles perguntaram: “esse é óculos tem uma câmera?”
O Amazon Echo Frames não possui câmera, apenas áudio e já integrado com a Alexa. É possível pedir informações, ouvir seus lembretes e fazer ligações.
Quando o assunto é usabilidade também temos os diferentes tipos de interação. Como “ativar” as funcionalidades?
Voz, toque ou realidade aumentada com controle por gestos?
Em alguns você consegue interagir falando, ou mostrando (controlando por gestos, tipo o Google Glass e o Spectacles 4). Outros, só literalmente interagindo fisicamente. Nas versões 1,2 e 3 do Spectacles, você precisa clicar num botão que normalmente fica na haste do óculos.
No melhor dos mundos, você pode tanto falar quanto interagir. É o caso do Ray-ban Meta. Nas duas versões, é possível clicar no botão da haste, ou pedir para a gravação começar por voz. “Hey Meta ” é o comando, e funciona muito bem!
Outra coisa muito legal das versões dos óculos da Meta é que a haste é touch. Você pode "clicar" 1x para dar play/pause em uma música, 2x pra passar para a próxima música e arrastar para frente ou para trás para aumentar e diminuir o volume.
Para finalizar, os óculos da Meta também cumprem uma ótima função: são apenas óculos de sol ou armações normais (por que também tem versões com lente de grau ou lente clara sem grau), para quando você não quer nem ouvir música e nem tirar fotos ou gravar vídeos. É possível usar só como um acessório, o que convenhamos, estimula bastante o uso diário. Além de ser de uma marca já consolidada no setor de óculos, que convenhamos, é um ótimo "feat" né?
Software
O Spectacles e o Amazon Echo Frames, por já serem de empresas que tinham apps, Snapchat e Alexa, respectivamente a “curva de aprendizado” talvez seja menor e mais prática. Já as versões do Ray-Ban Meta, você precisar baixar um app para você enviar as fotos e configurar algumas coisas, como tempo de filmagem, ação principal do botão, integrar Spotify e comandos de voz (Se você tá no Brasil, precisa ter uma conta em alguma store na gringa para conseguir baixar). Mas, o app evoluiu MUITO desde o princípio, assim como o hardware. No princípio, não era possível conectar mais de um aparelho (Pra quem usa um no sol e outro em lugares fechados como eu, era bem chato ter que ficar pareando e despareando cada device).
A nova versão, você pode parear 2 Ray-Ban e os vídeos/fotos tão sendo transferidos muito mais rápido. Inclusive quando você registra algo, você recebe um push dizendo que há novos conteúdos para serem importados.
A parte chata é que, para importar, você precisa deixar o app aberto sem fazer outras coisas, o importação não rola em segundo plano.
Outra coisa que mudou foi onde fica os conteúdos. Na primeira versão, você baixava pro app e tinha que selecionar para também salvar no rolo da camera.
Agora, quando você importa, já vai automaticamente para o rolo da camera, o que é ótimo, mas teria um problema de armazenamento né? Porque o arquivo fica duplicado, salvo no seu device e também no app. Ai que entra o básico brilhante mais uma vez: O app tem uma feature que te notifica e dá a opção de deletar os arquivos do app e manter só no rolo da câmera!
O app também tem uma funcionalidade de fazer montagens com o conteúdo, e consegue fazer umas bem maneiras.
2. Hábitos & Comportamento
Quando você tá vendo alguma coisa legal que quer registrar, quanto tempo demora para pegar o celular, desbloquear, abrir a câmera e começar a registrar? Pois é, com o óculos o esforço é levar a mão até a haste, quase instantâneo.
Mas mesmo sendo bem intuitivo, demorou quase 01 ano para isso virar o “padrão” no meu uso. Perdi as contas de quantas vezes estava com algum dos óculos mas instintivamente pegava o celular no bolso para registrar - e escrevendo isso percebi também que essa nova categoria vem com uma mudança de hábitos grande pro usuário. Começar simples é fundamental.
Claro que nesse ponto tem alguns fatores que contribuem um pouco pra isso, como qualidade e zoom. Por exemplo:
A versão 1 do Ray-ban Stories, a qualidade da câmera era só 5 MP, ou seja, bem pixelado comparado a dos últimos iPhones e outros celulares. A do Spectacles era HD. E a do Google Glass, que foi lançado anos antes (2013) já era 5 MP.
Já na versão nova do Ray-ban Meta, a camêra é ultra wide com 12MP, que é bem mais angulada e com muito mais qualidade. Para fazer uma comparação, 12MP era a qualidade da camêra do iPhone X em 2017, quase 7 anos atrás.
Em termos de Zoom, essa talvez seja uma das funcionalidades mais aguardadas das próximas versões, que pode dar ainda mais usos para os smartglasses.
Ah, e tanto o Echo Frames quanto o Ray-ban Meta possuem alto falante e microfone, e funcionam bem. Para ouvir música, podcast e afins, é ótimo e também prático no aspecto de ser menos um device para você levar/carregar com você (quem nunca deixou o Airpod cair na rua que atire a primeira pedra). Mas a funcionalidade de atender ligações com ele é ainda algo que sinto um pouco de vergonha por ter que “falar com o óculos” do nada. 🤷🏽♂️
Numa coisa o Zuck acertou: escolheu funções úteis, rotineiras e mais simples para começar, e está aprimorando essas funções ao invés de já trazer várias novidades. Além disso, ele escolheu funções que encaixam muito bem no que o usuário busca hoje: criar conteúdos mais espontâneos, menos produzidos e com o famoso POV, que ficou bem popular com o TikTok.
Outra coisa é também o fato do Ray-Ban Meta já tá muito mais “conhecido” do que foi o Ray-Ban Stories. O device foi lançado há algumas semanas e já to vendo muita mais pessoas que não são tão tech savy ou early adopters (incluindo influencers de diferentes segmentos e quantidade de seguidores) adquirindo seu Ray-Ban Meta.
Inclusive, dá pra perceber também que a Meta investiu MUITO mais em PR do que na primeira versão, tanto é que muita gente nem sabia da existência do Ray-Ban Stories e muitas manchetes eram tipo “Meta lança óculos com a Ray-Ban”.
3. Casos de Uso
A gente pode ter um post pra falar só disso. Inclusive você pode ver alguns dos meus registros aqui e seguir o @smartglassesPOV no Instagram e TikTok, perfil que eu e minha namorada criamos para guardar alguns registros e mostrar casos de uso.
Mas assim como o Zuckerberg falou na sua entrevista no The Verge, o óculos talvez seja o melhor tipo de device para interações com câmera e A.I. (lembrando que a nova versão do Ray-ban Meta vai ganhar um update no software em janeiro de 2024 que vai permitir a A.I. interagir com o que você tiver vendo. Talvez seja uma versão mais funcional e menos futurista do Spectacles 4 A.R.) E eu e meu parça
também comentamos no nosso podcast:Não precisar pegar o celular para tirar fotos sem sombra de dúvidas a melhor.
Escutar música sem estar com um fone e também conseguindo ouvir o ambiente
Ano passado eu tava num casamento na praia e era no pôr do sol, bem na hora que o São Paulo x Corinthians jogavam na semi-final do Paulistão. Eu estava vendo os noivos entrarem, acompanhando tudo e também ouvindo meu tricolor jogar, sem ninguém perceber 😅
Nessa mesma linha, ouvir podcast/músicas quando to andando de bike mas também ouvir o que tá rolando na rua em um só device facilita, né?
Alguns outros casos:
Filmar shows (sem levantar a mão e atrapalhar os coleguinhas que só querem assistir):
Fazer unboxing:
Registrar uma receita sendo preparada:
Esportes POV
Já pensou em fazer o upgrade? Por menos de R$10,00 vc tem acesso a:
✅ Sorteios TODA semana (livros, cursos, kits e muito mais!)
✅ Ingresso na faixa para todos Papo na Arena
✅ Templates, conteúdos e entrevistas exclusivas
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✅ Além de um cafézinho mensal 1:1 comigo para falarmos sobre os desafios de gerenciamento de produto
4. Privacidade e regulamentação
Como falei no início, até hoje poucas pessoas identificam que o Ray-ban Meta é um óculos que filma. Essa questão de ser um óculos que também filma ou um gadget que tem um pouco de óculos impactou muito o Google Glass, inclusive vários locais colocaram placas para proibir o uso dentro de seus estabelecimentos.
Todas as versões ativam uma espécie de luz/flash que fica ligada, girando ou piscando enquanto você estiver filmando ou tirando fotos.
Mas principalmente em ambientes ao ar livre, com bastante luminosidade, fica quase impossível ver ela.
Em tempos de LGPD e onde cada vez mais o fecho cerca para regulamentações envolvendo tecnologia e big techs, acredito que se algum device desse tipo se popularizar, podemos ter mais discussões e leis aparecendo.
5. Futuro, o que vem por aí?
A curto prazo, acredito que os updates são na mesma linha do que temos visto com smartphones: mais armazenamento, mais processamento, e mais qualidade na câmera (principalmente nas imagens de noite, que ainda deixam muito a desejar).
Enquanto a Apple foi no caminho de mais qualidade e aplicações de uso (e por conta disso, estão chegando com um device maior e mais caro - US$3.499!!!!) a Meta foi para um contexto mais acessível, tanto em preço (entre US$299 - US$399 dependendo do modelo) quanto em qualidade (lembrando que a primeira versão tinha só 5MP). Mas eu acredito (e espero) que daqui umas versões, o Apple Vision Pro será muito próximo de um óculos normal.
Antes de falar o óbvio sobre A.I., coisas que eu acredito que vão aparecer nas próximas versões:
Mais qualidade e angulação nas câmeras
Mais qualidade nos vídeos de noite
Mais tempo de duração dos vídeos
Zoom (para isso, vai ser necessário conseguir ver e processar o que você tá filmando)
Possíveis interações com a tela (seja para visualização, seja com realidade aumentada)
Integrações com outros apps
E claro, A.I.
Mas em tempos onde os chips ficam cada vez menores, o poder de processamento é cada vez maior e a A.I. está entrando em tudo, com certeza veremos muita coisa ainda aparecendo por aí. Imagina no futuro esse device ser uma lente de contato, e nem de armação precisar? (eu tenho muita agonia de colocar lente, então espero que arrumem um jeito prático pra isso também)
Inclusive, a Meta já anunciou que vai lançar um update no software para janeiro de 2024 onde a A.I. vai estar nos óculos. Num primeiro momento, muito parecido com o que a Alexa faz no Amazon Echo Frames, você vai poder interagir com ele via áudio.
Mas ainda em 2024, ela vai tá também integrada na câmera, ou seja, você vai poder pedir informações/curiosidades/suporte com o que você estiver vendo.
E meu veredito? 👀
Acredito que nos próximos 2 anos vamos ver muito mais gente usando seus óculos para proteger do sol e também filmar (e quem sabe até atender ligações sem parecer doido) 😎
Um agradecimento especial para Niiiiina (mozão), Lucas Mattos e Nana Menezes que ajudaram esse post a ficar mais legal e com infos relevantes!
Adorei essa edição e principalmente os exemplos de uso, bem massa :)