Biblioteca da Pilon #01 📚
O que dá pra aprender sobre produto e carreira com a biografia de Elon Musk
👋 Esse é mais um post da Brilliant Basics, a sua newsletter sobre tópicos de produto sem filtros. Toda semana tem conteúdo novo para fomentar as mentes pensantes a criarem produtos melhores.
Quando a Carol Pilon participou do Papo na Arena, ela tinha uma lista tão, mas tão grande de livros pra indicar que fiquei pensando em como não deixarmos isso só lá.
E daí nasceu a Biblioteca da Pilon!
De tempos em tempos, ela vai fazer uma resenha de algum livro, trazendo as relações com produto, carreira e liderança.
Se você quiser ouvir a entrevista com a Pilon, que já é o episódio mais escutado do nosso podcast, só dar o play:
Carol é de Jundiaí, formada em Arquitetura e Urbanismo pelo Mackenzie e pós-graduada em Tecnologias Digitais e Inovação Sustentável pela USP. Migrou para o mundo de produto na Loft, passando por posições de APM, PM e GPM, assumiu a posição de Head of Product no Datalab da Serasa Experian e agora ocupa a posição de GPM no Mercado Livre, cuidando da experiência de envios do comprador.
Além disso, Carol curte um esporte, triathlon, corrida e yoga, é mãe da Chandon - a pet mais mimada do planeta - e adora uma viagem.
Hoje vim contar um pouco das minhas percepções sobre a biografia de Elon Musk, que foi escrita por Walter Isaacson, mesmo autor de diversas outras bios, como de Leonardo da Vinci, Steve Jobs, Einstein e Benjamin Franklin.
É um texto extenso, onde o autor mergulhou durante 2 anos no dia a dia do empresário, trazendo uma visão geral da sua história e aprofundando nas últimas décadas de sua vida.
O objetivo aqui não é trazer um resumo do livro (tem vários no medium, btw), mas sim, dividir alguns aprendizados e percepções pessoais, sempre procurando fazer o paralelo com a área de produto, carreira e desenvolvimento de negócios.
Então, bora lá.
Ficha técnica
656 páginas
Editora Intrínseca
Data da publicação: 12 setembro 2023
Idade de leitura 14 anos e acima
O livro percorre principais passagens da vida de Musk, desde sua infância em Pretória, na África do Sul, com contexto familiar de razoável violência e abuso, passando pela chegada aos EUA, período da universidade, primeiros empregos e empresas, até chegar no contexto atual que nos é mais familiar. Sendo uma biografia, é possível conhecer aspectos não tão divulgados da vida do empresário, como casamentos, paternidade e hobbies, mas o aprofundamento se dá, de fato, pela dimensão na qual ele foca mais energia: profissional, gerenciando simultaneamente 6 grandes empresas, de segmentos diversos: Tesla (automotivo), SpaceX (aeroespacial), Starlink (internet e conexão), Twitter (redes sociais), The Boring Company (infraestrutura e construção de túneis), Neuralink (neurotecnologia e implantes) e, agora mais recente X.AI (inteligência artificial).
No medium tem várias reviews e resumos pra quem quiser se aprofundar mais. Agora, partindo para minhas reflexões e aprendizados sobre produto e carreira.
Tentativa e erro - testar e aprender rápido
Em product management, estamos sempre nos questionando sobre como trazer mais cadência para o ciclo de produto, testar, errar, corrigir e aprender, sempre o mais rápido possível.
Musk personifica a tentativa e erro com seu apetite constante ao risco. Tendo dinheiro ou não, experiência ou não. O empresário mergulha intensamente em pautas que desconhece, como quando começou a estudou sobre design automotivo na Tesla e errou na precificação inicial dos veículos. Somado a isso, toma riscos que muitas vezes fracassam ou, em outros casos, viram a chave do sucesso, como no caso do lançamento do terceiro foguete da SpaceX, que fracassou e, mesmo assim, em meio um divórcio, problemas graves na linha de produção das suas outras empresas e falta de capital, ele não desistiu e decidiu lançar o quarto foguete, tudo ou nada na confiança que ia dar certo. Neste caso, deu, e foi o fator decisório para a empresa conseguir mais aporte de investidores e iniciar as operações de envio que satélite, que gerariam caixa para a empresa.
Já é sabido que, quanto maior a tomada de risco, maior o potencial de fracasso, mas também, maior a exposição apostas que podem geram retornos absurdos, vide cases de grandes empresários e milionários, a história do “dinheiro atrai dinheiro”. Mas, no nosso caso de produto, fica o questionamento sobre como podemos ampliar a cada vez mais nosso senso crítico como PMs, para tomarmos riscos calculados e ampliarmos o impacto das soluções.
Foco na missão e depois no modelo de negócios
O cara quer colonizar o espaço, mudar a matriz energética do planeta e evitar o domínio da humanidade pela AI. Pode-se falar o que for, mas no mínimo, é inegável que são objetivos grandes. Vindos de um único indivíduo.
E algo relacionado a isso que me chamou muita atenção no debate de produto é a forma como ele encara missão, visão dos produtos que constrói: Primeiro desenha a visão, depois encaixa o modelo de negócios que a viabilize.
Um exemplo é a SpaceX, onde a visão é de que a humanidade colonize Marte e, para viabilizar isso, construiu o business de envio de satélites que monetize o longo prazo da missão. Outro exemplo está relacionado a Neuralink, como o negócio de implantação de chips em organismos que contenham deficiências: “If we can find good commercial uses to fund Neuralink, then in a few decades we will get to our ultimate goal of protecting us against evil AI by tightly coupling the human world to our digital machinery”, Elon estima.
Do ponto de vista de product management, isso é uma lição e tanto, considerando o quanto falamos sobre a importância de se construir uma visão de longo prazo para os produtos, mesmo que, cambiável. Os ganhos são diversos como fator norteador de direção, priorizações, focos gradativos e até, engajamento dos times e fundings externos.
Visões grandeosas como as de Musk trazem consigo desafios de perseverança no contexto de inovação e remetem ao desafio típico dos CEOs, que podemos espelhar como PMs: de sabermos equilibrar o brilhantismo de encantar com o pragmatismo de construir.
Liderança
Do meu ponto de vista, este trecho trouxe os aspectos mais “humanos” de Musk, onde pude identificar o paradoxo entre os erros crassos de liderança/gestão e a genialidade de exigência de qualidade e inspiração de time.
Musk mostra que, ser exigente e provocativo faz de você um líder que alavanca a performance para frente, mas também demonstra que a falta de empatia e humanização da gestão podem dificultar a construção de uma cultura forte. Exemplo disso no livro é a transformação de cultura vivenciada pelo time do Twitter, após a aquisição. Mais de 75% da equipe desligada (voluntaria e involuntariamente) se contrapondo a uma mudança agressiva na eficiência e performance.
Fica a reflexão sobre o conceito de Pyrrhic Victory, que Clare Hughes cita no Scalling People (dá um google). Basicamente refere-se a vitórias conquistadas a tanto custo que talvez não tenham valido a pena. Aqui não cabe a discussão se este é o caso com os times de Musk, ou não, mas sim, a reflexão sobre como conduzimos nossos próprios squads e times.
Saber o que se quer e se conhecer
São mais de 600 páginas, com “n” exemplos de situações cotidianas da vida de Musk e algo que fica muito claro é a sua determinação relacionada às ambições e sonhos. Lendo as passagens, dá pra perceber que ele nasceu pra isso, é uma máquina de “trabalhar” e está disposto a abdicar de todo o resto para conseguir alcançar.
Isso me fez refletir sobre a importância do auto conhecimento na gestão da carreira: saber quais são suas características fortes, pontos a se desenvolver são aprendizados essenciais para olhar os trade-offs da vida com mais naturalidade e se colocar em situações e posições que te favoreçam e, de fato, preencham.
Fixação em product-driven, não sales driven
Algo interessante da sua abordagem que, do meu ponto de vista, varia muito de acordo com a estratégia de cada empresa é o foco que ele dá para negócios mais product-driven do que sales-driven. As estruturas e planejamentos financeiros de suas empresas priorizam muito mais recursos alocados em desenvolvimento de produtos do que em força de vendas. No olhar de Musk, um produto bom deveria falar por si só e se vender sozinho.
Um funfact interessante de se refletir aí é: como, numa tendência global de alto investimentos em software nas últimas décadas, Musk aloca energia significativa em desenvolvimento de hardware (carros, chips, foguetes…), sempre premissando que todos equipamentos deveriam, sim, ter alta inteligência agregada.
Polêmica dos product managers
Um pouco contra intuitivo, pra um texto sobre product management, mas não podia deixar de trazer: se tem uma coisa que o empresário é categórico é que (resumo de palavras dele): “Produtos não deveriam ser gerenciados por product managers, mas sim por engenheiros, que entendem a arquitetura e constroem, de fato”.
Polêmico e eu poderia escrever uma bíblia a respeito das minhas opiniões quanto a isso, mas vou “drop the bomb and run away” e deixar com vocês: e aí, qual a sua percepção? Quais os pontos fortes e fracos para diferentes chapters direcionando a construção de produtos? Tem certo ou errado? Fica a reflexão.
Automatização
Olhar importante, principalmente para quem está começando: quando é o momento de automatizar soluções? Desde a jornada que corre via automações simples com zapier, ou uma arquitetura de solução cujos scripts ainda dependem de inputs manuais até, no caso de Musk, a linha de produção de fábricas automobilísticas da Tesla.
No livro, o autor deixa claro o arrependimento/aprendizado do empresário quanto a implementação prematura de automatização de suas fábricas, o que acabou gerando perda de eficiência e processos custosos demais que, na verdade, poderiam ser muito mais simples se tivessem sido construídos com mais entendimento e maturidade. No caso do livro, a situação gerou um retrabalho grande, em que foi necessário revisar e refazer todas as esteiras, de modo a tornar o processo mais econômico e enxuto. É o que um ex líder meu, Arthur Castro, sempre diz, façamos o brilliant basics.
Questionador e eterno insatisfeito
Aqui é de praxe: pra ser PM bom, tem que ser curioso e questionador. Tem que fuçar, aprender, ir atrás. Caçar os problemas e ser criativo na solução. O que eu quis trazer aqui do livro, que achei muito interessante é o modus operandi de Musk com relação a burocracias processuais. Ele construiu um tipo de passo a passo ou algoritmo sobre como pensar “fora da caixa” em casos de burocracia pra viabilização dos projetos:
Questionar todo e qualquer requerimento
Deletar todas as partes do processo que forem possíveis
Simplificar e otimizar o que sobrar
Metrificar leadtime de etapas e acelerar
Automatizar
Claro que, numa leitura completa, o contexto auxilia bastante no entendimento destes itens. De qualquer forma, fica a provocação porque percebo o conflito que pessoas de produto enfrentam em cenários de grandes corporações e na minha visão, não deveríamos enfrentar burocracias apenas com o olhar de “trava”, mas sim, nos munirmos de ferramental para superá-la aos poucos.
Videogames e a vida
Segundo o autor, Musk é viciado em jogos, de diversos tipos mas, principalmente, de estratégia, desde a infância até hoje. O jogo do momento no celular do empresário é o Polytopia, caso alguém esteja procurando indicação. Achei interessante o paralelo que Elon Musk faz entre jogos e a vida profissional, com o que chamou de “Polytopia Life Lessons”. Listando brevemente aqui:
Empatia não é um recurso: Musk acredita que empatia no universo corporativo pode atrasar o progresso, seja na hora da tomada de decisão desfavorável a um colega, seja ao discordar de um parceiro, seja na demissão de colaboradores, entre diversos outros exemplos. Bastante polêmico, mas o paralelo aqui é que “quando você está jogando videogame, você não teme a perda da empatia em pról da vitória, certo, ou não?”.
Não tenha medo de perder: na linha do apetite ao risco, ao jogar videogame, o medo de perder é bem menor do que na vida, não? Segundo Elon, o fracasso vai doer as primeiras 50 vezes, depois disso, vai apenas se tornar parte natural do processo. Haja casca.
Otimize todas as rodadas: erre, mas garanta que na próxima, o erro anterior estará consertado. Em Polytopia, você tem direito apenas a 30 rodadas, na vida, apesar de haver bastante tempo, é um recurso limitado. Não perca tempo cometendo os mesmo erros.
Escolha suas batalhas: um clássico. No jogo, você não consegue enfrentar 10 tribos ao mesmo tempo. Seja estratégico e escolha segundo seus recursos disponíveis. Colocar tudo numa linha do tempo ajuda a priorizar e manter o equilíbrio.
Despluge as vezes: o autor acusa que Musk ainda não aprendeu essa parte, mas a lição aqui é o básico “desinstalar o instagram de vez em quando”. Importante olhar para o horizonte, abrir espaço na mente e ver a vida com novas perspectivas.
Por último, impactos da AI nas diferentes indústrias, mercado e trabalho e humanidade
É sabido que Musk fundou a Open.AI em juntamente com Sam Altman. No livro, Isaacson explora a frustração de Elon quando ao desenvolvimento de uma iniciativa que, em sua visão, deveria ser open source e sem capital aberto para contribuição com desenvolvimento da tecnologia geral, mas que acabou se tornando algo voltado para interesses pessoal e lucrativos, motivo de sua separação.
A preocupação pública do empresário é o possível impacto irreversível que o eventual desenvolvimento irresponsável de AI pode causar na humanidade.
Devido a isso, fundou-se a X.AI e, com isso, vou fechando este texto com o próximo capítulo da história de Musk e sua nova empresa de inteligência artificial. Ainda preliminar, porém com grande expectativa, seja pela vantagem enorme em termos de disponibilidade de dados com todo o ecossistema de suas empresas, seja pela capacidade de visão e execução já comprovada de Elon.
O paralelo com produto aqui é: mesmo não trabalhando com AI no dia a dia, o aprendizado e informação vem se tornando cada vem mais essencial. Tem uma infinidade de conteúdos disponíveis na internet e aproveitando espaço para jabá, um deles é o curso de AI para PMs na prática da Product Arena, a segunda edição vai acontecer no 11 de maio e estarei por lá!
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Considerações finais
É isso, pessoal. Eu, particularmente, curto bastante a forma “imparcial” com que Isaacson constrói suas biografias e, devido a isso, uma coisa que fica bem clara no livro é que: assim como todas as pessoas, Musk é um ser humano, cheio de defeitos e qualidades que, devido a seu alcance na mídia, ficam muito mais escancarados e difundidos. Mas e você, a pergunta que deixo pra reflexão é: Qual o equilibro entre o impacto que construimos e o que precisamos fazer para chegar lá? O quanto o processo é parte da entrega e como nos envolvemos com todas as etapas da forma mais saudável possível?
Valeu e até a próxima!